terça-feira, 1 de março de 2011

Educação? Só para a estatística...


"A ministra da Educação escusou-se hoje a concretizar o número exacto de escolas do 1.º Ciclo que encerram no final do ano lectivo, afirmando desconhecer as estimativas das autarquias que apontam para o encerramento de cerca de 600 escolas." - Agência Lusa . hoje.



A Educação do faz-de-conta

1. O governo vangloria-se com os “resultados” e a subida dos níveis de habilitações dos portugueses. A falácia pega bem num povo mal informado… O mais importante, o “processo”, não é analisado. São comuns os telefonemas das Direcções Regionais às Direcções Executivas ou mesmo as visitas às Escolas para deixar bem claro: “não há chumbos – é a única questão que nos interessa”. Estamos a oferecer diplomas a pessoas sem um mínimo de rigor e exigência… Muitas destas interrogam-se mesmo sobre a validade destes diplomas, e admitem mesmo que “gostariam de aprender mais, mas estes cursos não servem para aprender”. Jovens e adultos saem da escola com diplomas de 9º ano/12º ano sem que alguma coisa lhes tenha sido exigida em troca… tudo fácil no país do faz-de-conta!

2. Constroem-se dezenas de escolas novas para “lavar a vista” ao povo. Escolas que muitas vezes têm qualidade inferior às anteriores, construídas com materiais de discutível qualidade. Os espaços não têm em conta a realidade do meio onde a escola se insere: o mesmo modelo é aplicado a todo o país. São instalados equipamentos de ventilação, quadros electrónicos, e outros que tais sem que tenham sido solicitados, e muitos destes equipamentos nunca chegam a ser utilizados. Foram ali instalados para o bem da comunidade? Não, de todo. Serviram para engordar a facturação da(s) empresa(s) dos boys que agarraram estes contratos, unicamente. Quem paga por tudo aquilo?

3. Elege-se o modelo da “super-escola”, que tem um efeito ultra nefasto em zonas não urbanas, obrigando muitos alunos e professores a efectuarem deslocações imensas. Os agrupamentos escolares, processo em que se agrupam 3 ou 4 escolas debaixo de uma só direcção (em contra-ciclo com o que se faz no resto da Europa) fazem com que cada professor dê aulas em diversas escolas do agrupamento, o que resulta num progressivo desenraizamento do docente à escola. Fazem também com que um Director tenha a seu cargo milhares de alunos espalhados por diversas escolas (muitas vezes com muitos km de distância). Deixa de haver a relação de proximidade docente-aluno e docente-docente, o que resulta numa degradação na qualidade pedagógica. As escolas estão super lotadas, bem como as próprias turmas. Mas que interesse isso tem? As “fábricas de ensino” que tudo formatam pela mesma bitola, ao bom estilo soviético, são a solução do Sistema!

4. Oferecem-se “Magalhães” às escolas, num delicioso acordo elaborado para enriquecer um ou outro “amigo” dos governantes do poder, sem que alguma vez se tenha questionado o valor acrescentado que este produto traz ao ensino.

5. A solução encontrada para a indisciplina na Escolas foi… esconder o problema. Calar a comunicação social. Calar os directores das Escolas. Se algum professor ou funcionário vir alguma coisa, faz de conta que não viu. Se algum professor ou funcionário ouvir alguma coisa, é melhor ignorar. E é melhor fazerem-no, pois os direitos dos alunos estão acima de tudo e de todos. Só é pena é que se esqueçam dos direitos dos alunos que querem aprender e trabalhar, que vêem-se privados da sua liberdade de aprender por causa dos direitos dos que apenas querem destruir… Opta-se por não assumir o problema e não o resolver. Opta-se pela mentira e pela covardia.


Qual o papel dos Sindicatos?

Seria de esperar que houvesse um sindicato que se preocupasse também com estas questões. Tem-no feito? Tem defendido o ensino? Tem defendido os que trabalham nesta área?

No dia 8 de Março realizou-se aquela que tinha sido, até àquela data, a maior manifestação de sempre de uma classe profissional em Portugal, a tal dos 80 mil. Diversas foram as razões que levaram os docentes à rua naquele dia, e não só aquelas que a comunicação social tão bem “construiu” para “erguer” a sua verdade para “fazer a cabeça” dos portugueses. Uma avaliação que, mais que injusta, era inexequível; as más condições de trabalho nas escolas; a ausência de rigor e qualidade de ensino fomentada pelo ME; a falta de autoridade e o completo desprezo do ME perante a indisciplina e violência que aumentam de forma significativa nos espaços escolares; as mentiras de um Governo que tentou destruir uma classe profissional para “poupar uns trocos” e satisfazer os que gostam de uma “autoridade virada do avesso” nas Escolas…

Um mês depois, é assinado entre os sindicatos e o ME um “memorando de entendimento”, que foi considerado pelos profissionais do ensino uma enorme traição à classe. A contestação nas escolas e o nível de descontentamento face aos sindicatos subiram… e os sindicatos aperceberam-se de que aquela classe profissional não era tão facilmente manipulável como outras que tão bem controlam, e o que fizeram os sindicatos? Começaram a afirmar que não assinaram o que de facto tinham assinado, e acabaram por quebrar o acordo.

Seis meses depois da primeira, uma segunda manifestação, e esta bateu todos os recordes: 100 a 120 mil docentes desceram a Avenida da Liberdade! Que força humana que ali estava! Uma classe inteira ali jazia, a contar com um endurecimento de posição por parte dos sindicatos. Ao fim da tarde, quando Mário Nogueira pega no altifalante, dá a "machadada" final na classe: “faremos uma greve a 19 de Janeiro” (mais de 2 meses depois!). Ouviu-se nesse momento algo que, nem foi noticiado pelo media, nem pelas revistas dos sindicatos: um “brrruaaaaa” imenso de desilusão! A maioria daqueles professores queria 2 ou 3 dias de greve seguidos já durante o mês de Novembro – levar a luta às últimas consequências, mas os seus ditos “representantes” tinham uma outra agenda… Talvez por coincidência, um dos altos dirigentes da FENPROF, poucos meses depois, é convidado a ingressar na equipa do ME. O senhor do sindicato portou-se bem em todo este processo perante os líderes socialistas… e diz ele que defendeu os direitos dos trabalhadores do seu sindicato! – Como prenda por tão temerosa (e teimosa?) posição, recebeu a prenda do nosso (des)governo. Um homem de princípios! Mais um parasita para nós sustentarmos!

Poucos meses depois realizaram-se eleições no Sindicato. No controlo de toda a comunicação (site oficial, revistas, propaganda nas escolas,…) para com os sindicalizados, onde não há lugar a vozes de oposição (porque isso é coisa de outras democracias!); no controlo de lugares e de interesses e de concelhias em todo o país, os tais do costume venceram facilmente as eleições “livres”. Pouco depois, lá vemos Mário Nogueira a fazer campanha eleitoral ao lado do Partido Comunista. Toma lá, dá cá…

As revistas deste sindicato não focam, como já referi, opiniões contrárias às do PC (ou outro partido marxista que o sustente). Não focam visões para um ensino diferente. Não abre o debate de ideias para uma Educação Nacional. Nada! Reporta apenas à visão da direcção do sindicato (= filial do PC) e aborda temas da sociedade que estejam em agenda política, sempre com a visão da direcção do Partido Comu… Sindicato!

Os sindicatos não têm uma única palavra em relação ao vergonhoso facilitismo do sistema de ensino, em relação às “super-escolas”, em relação à falta de segurança,… pois não, estes temas têm a simpatia dos seus partidos e da visão para a sociedade que estes representam…

Sindicatos que não fomentam acções de formação relevantes para a carreira dos profissionais, não têm em conta a qualidade do ensino, não têm em conta a qualidade da escola nem o futuro da qualificação em Portugal?

E volto a perguntar: que país é este onde sindicatos estão associados a um determinado partido político, um partido que tem a sua agenda própria, que defende os seus próprios interesses?

O MNA, tanto nesta área como noutras, defende a existência de uma frente sindical Nacional e Independente que realmente defenda os direitos dos Trabalhadores e que valorize o seu Trabalho, sempre no âmbito do interesse Nacional e do Bem Colectivo, e não estas pseudo-organizações sindicais que defendem somente os interesses do seu grupo político-partidário e da sua agenda política. Que se acabe de vez com esta censura, em que estamos “proibidos” de criticar estes pseudo-sindicatos; que por se afirmarem como Paladinos “ao lado dos trabalhadores”, vivem numa espécie de trono divino intocável, que ninguém pode questionar.